quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Perspectivas para 2011

Perante a actual crise, a União Europeia, e mais concretamente a Zona Euro, tem apenas dois caminhos possíveis:

Por um lado, ou contínua com o actual rumo, de implementação de pacotes restritivos “à la carte”, e o Euro acabará por sucumbir, quer por via do agravamento da crise económica e social nos países em maiores dificuldades (fruto de um abrandamento do crescimento económico e de uma redução das receitas fiscais, e deficiente execução orçamental), quer por via da pressão contínua dos mercados, interessados que estão em continuar a fazer subir a parada especulativa em relação ao prémio de risco exigido para comprar a dívida pública dos chamados PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), com vista a alimentar o apetite voraz dos investidores.

Ou, por outro lado, e numa rota oposta à defendida pelo eixo franco-germânico, a EU utiliza esta oportunidade para evoluir, e para dar um passo decisivo rumo à Federalização política e financeira dos seus Estados Membros.

Isto porque, como podemos aprender com panorama actual, a EU não pode continuar a querer constituir-se como um espaço de coesão económica, política e social, sem dispor das ferramentas necessárias para levar as suas políticas avante, e sem os meios e instrumentos financeiros para se financiar correctamente. Sem estes meios, e sem estes instrumentos, os países mais pobres da EU continuarão à mercê dos ataques especulativos dos mercados, os mesmos que em 1992 contribuíram de forma determinante para o colapso da Zona Monetária Europeia, e que por intermédio da sua ganância e miopia conduziram o mundo a uma forte recessão em 2008.

É, portanto, cada vez mais evidente a necessidade de se dotar as EU da capacidade de emissão de títulos de dívida europeia, as chamadas Eurobonds, que teriam como objectivo suprir as dificuldades financeiras dos países da Zona Euro a um preço mais baixo, assim como fazer face às pressões especulativas em torno das taxas de juro da dívida soberana. Mas, para tal, é necessário que em primeiro lugar os seus líderes se comprometam em levar o processo de europeização um passo mais além, no sentido da faderalização e da democratização das instituições europeias.

A verdade inexorável é que a Europa não pode continuar a falar a 27 vozes, cada uma com interesses e perspectivas diferentes, cada uma seguindo por um caminho diferente, sem a dose necessária de solidariedade para compensar.

A consolidação das contas públicas dos Estados Europeus é de facto necessária e urgente, sob pena de se nada se fizer o próprio projecto europeu ser colocado em risco.

Mas esse risco é ainda mais gritante se esse esforço de consolidação imediato se fizer à custa das populações europeias, e se sob a sua alçada não se puderem realizar as reformas estruturais fundamentais que são necessárias operar nos países mais periféricos da EU.

O problema subjacente a 2011 e que irá tomar a de assalto os líderes europeus irá ser causado por uma insuficiência da procura agregada. Uma insuficiência causada pelos dramáticos pacotes de austeridade supra referidos, e pela recusa da Alemanha na emissão das Eurobonds, factores que irão contribuir para que a economia da Zona Euro permaneça em estagnação. Na verdade, as perspectivas económicas para este ano são muito sombrias e marcadas pela incerteza, dado que o potencial de crescimento é muito reduzido e existem muitos riscos de recessão.

A ironia de tudo isto é que existe na UE simultaneamente uma capacidade instalada de capital e de vastas necessidades estruturais por suprir, necessidades essas que algumas políticas de investimento público exequíveis poderiam ser implementadas para alavancar o crescimento económico a curto e a médio prazo, e que ao mesmo tempo poderiam ser executadas com algumas preocupações e restrições orçamentais de longo prazo.

Como disse Joseph E. Stiglitz (prémio Nobel da Economia):

“Na Europa e nos EUA, a ideologia do mercado livre, que permitiu o crescimento de bolhas de activos sem qualquer interferência - os mercados é que sabem, pelo que os governos não devem intervir -, deixa agora os legisladores de mãos atadas para procurarem conceber respostas eficazes à crise. Poderia pensar-se que a própria crise iria minar a confiança nesta ideologia, no entanto parece ter ressurgido para arrastar os governos no caminho da austeridade.

Se a política é o problema da Europa e dos EUA, somente a introdução de alterações políticas poderão restaurar o crescimento. Ou senão, podem esperar até o espectro do excesso de capacidade diminuir, os bens de capital se tornarem obsoletos e as forças restauradoras internas da economia fizerem gradualmente os seus truques de magia. Em qualquer dos casos, a vitória não está ao virar da esquina.”

Caso houvesse a visão e um desprendimento aos ditames dos mercados, a Europa poderia utilizar esta oportunidade para se refundar, para levar a cabo as reformas estruturais que são urgentes à sua própria sobrevivência a longo prazo. A crise europeia não é somente económica, mas também social e sobretudo política, e a conjuntura actual apresenta-se como uma oportunidade única de levar a cabo as reformas necessárias.

Será que vamos deixar fugir esta oportunidade? Quem sairá a ganhar são os grandes investidores e os Mercados emergentes.